Senhores e engenheiros Entre o povo corre um ditado, " senhor é mais que doutor", tal a consideração popular, fruto de séculos de sabedoria: as pessoas são mais importantes que os títulos. Num tempo em que já o tempo nada vale, quando se dizia que "tempo é dinheiro", a avaliar pela salganhada da ausência da data no certificado de habilitações de José Sócrates, talvez valha a pena perguntar quanto valeu esta rasura de um simples elemento fundamental, o tempo, pedra basilar de referência na evolução da civilização e na marcação de eras. Nos dias correntes, as receitas das pessoas em Portugal são avaliadas em contos, essa moeda virtual de dimensão transnacional do mundo português, e as despesas são referidas em euros; é tal a disparidade de sentimentos da população trabalhadora deste país em relação à sua realidade presente, que já será de todo indiferente o que e qual é ou não a qualificação de José Sócrates. Ressaibiados e extremistas, algumas vozes ainda tem a lata de se escandalizarem quando Salazar é escolhido como o melhor português de sempre. Será de facto ou é a percepção da diferença de carácter, atitude e firmeza na condução dos destinos do país? Sinais dos tempos sentirão outros, perante os atentados que são feitos às elites e determinados sectores do poder do estado, funcionários públicos entre os mais atingidos na baixeza da consideração por eles, e por fim, os atentados aos construtores dos elementos base da cultura de um país. Certamente, será difícil ultrapassar esta prova de fogo sem sair chamuscado da voragem política e da notícia preparada com zelo, amparada pela simplicidade de uns quantos favores prometidos e na ausência da sua prestação dos compromissos. A quem serve toda esta parangona da chicane política? Aos sicários e mercenários do poder é com toda a certeza; ao país de pouco servirá e à sua imagem a nível internacional; finalmente, sobre o povo, a quem deveriam servir os políticos e quantos se dedicam ao serviço público, é que se abate o efeito de dirigentes com curto pudor e sem escrúpulos. Bem ajam todos os que contribuiram de forma significativa para a revelação de tamanha hipocrisia e da oferta de verdadeiras pechinchas noticiosas em tempo de saldos de verão antecipados. Quem se proclamava como o paladino da inovação, da transparência, da moralidade, de ter estratégia e visão para o país, ter a honradez e obter a explicação transparente de como se consegue um título académico, já é outra música! Todavia, tenhamos em conta que não é só esta personalidade, pois nos idos da revolução dos cravos, tomados de assalto os registos das universidades, quantos serão afinal os actuais políticos e titulados académicos que granjearam o seu título com a falcatrua? Muitas destas pessoas dirigem hoje os destinos de muitas entidades, instituições públicas e empresas, mas como há pouco hábito em Portugal de fazer o rastreio destas titularidades e de confirmar referências, de facto pouco vale o título académico para além da experiência profissional adquirida na base do saber e do que efectivamente se sabe com a experiência da vida A realidade nua e crua é esta: muitas destas pessoas são os responsáveis hoje pelos nossos destinos no futuro e o espectro do fartar vilanagem no mar rosa do poder é "o que está a dar". Desconhecia que os blogs fossem tão poderosos a ponto de ultrapassar o 4º poder na revelação destes escândalos, servindo para justificar a tese da cabala política, conforme referido pelo próprio em entrevista televisiva e pelos arregimentados de serviço. A 2 anos de mandato e na sequência da sua ausência do poder, o regresso ao poder baseado na propaganda da falta de consistência dos responsáveis do poder, deixa antever que melhor será começar a preparar as próximas eleições com candidatos à altura, honrados, de carácter firme e sobriedade de conduta ética. Demitir-se quando o navio está a ser atacado, preserverando o combate político assente em ideias e convicções a favor dos destinos de um país, é cobardia; demitir-se quando a afronta o atinge pessoalmente, até haver luz na escuridão de títulos conquistados de maneira pouco transparente, é humildade e, no limite, firmeza de carácter. A provar-se o contrário e a sua inconsistência, tal atitude colheria muitos frutos entre os eleitores; caso contrário, pagará por ser ou parecer agarrado como uma lapa ao poder, sem eira nem beira para se servir dele. Uma famosa série de televisão caracterizava bem esta realidade e dava a receita ideal: demita-se senhor ministro!
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